O nome “Caribé” está associado ao comércio de Januária há quase 80 anos. Isso foi em janeiro de 1930, quando o sr. Beltrando Caribé chegou a Januária através do Rio São Francisco, então o melhor e quase único meio de comunicação.
Após trabalhar alguns meses como mascate pelas ruas da cidade, abriu sua primeira casa comercial – a Casa Paulista – na praça Getúlio Vargas, esquina com a rua Cônego Livínio.
Loja de secos e molhados que tinha como atrativo a seguinte placa ”Produtos selecionado bebidas, álcool, fósforos, sal, calçados, tecidos, gêneros, etc…”, que traduzia bem o espírito e objetivo da pequena loja que consistia em comprar bons produtos em São Paulo e Rio de Janeiro para revendê-los em Januária, bem como, comercializar os bons produtos da região.
Na década de 30, o comércio pelo Rio São Francisco estava em pleno desenvolvimento.
As riquezas de Januária eram exportadas pelo Rio e suas necessidades de produtos externos também eram atendidas por ele. Isso fez com que o sr. Caribé, com sua visão de bom comerciante, mudasse a loja para a área portuária, na beira do cais, onde foi reaberta na rua Visconde de Ouro Preto. A partir daí, a empresa cresceu e se diversificou.
O leque de produtos comercializados aumentou para atender a demanda interna da cidade e o comércio com o sul da Bahia e Pirapora cresceu.
Os bons negócios através do Rio fizeram prosperar o comércio em toda a cidade.
A loja no cais do porto atendia satisfatoriamente o intercâmbio comercial fluvial, mas não ao importante comércio das grandes tropas que chegavam a Januária.
Assim, mais uma vez a visão de futuro levou esse comerciante a realizar importantes mudanças na sua empresa.
Em primeiro lugar, adquiriu uma grande área de terreno situada entre a praça do mercado e o cemitério, hoje praça Raul Soares, sede da matriz.
Nesse local construiu os seus depósitos e destinou a área restante aos tropeiros, suas mercadorias e animais.
Dessa forma, Januária começou a intensificar o comércio com o estado de Goiás, diversificando suas fontes de riqueza.
O comércio com as tropas criou novas expectativas e, consequentemente, novas necessidades. Tornou-se necessário agilizar esse tipo de comércio, apresentar infraestrutura mais eficiente e maior segurança. Partindo dessa visão, o sr. Caribé criou o “Rodoviário Caribé”. Com caminhões “Internacional” o transporte de mercadorias e passageiros passou a ser feito principalmente em direção ao estado de Goiás. Na mesma época, foram criadas duas filiais: em Pedras de Maria da Cruz, do outro lado do rio, para facilitar o comércio com a região de Montes Claros e em Pirapora, para facilitar o comércio com Belo Horizonte.
Os negócios na área comercial iam de vento em popa, mas havia um produto típico de Januária, até então produzido artesanalmente, que não era bem explorado e não ultrapassava as fronteiras do município – a Cachaça. O sr. Caribé adquiriu sofisticado maquinário para a época, inclusive aparelhos filtrantes e passou a envasar e comercializar a CACHAÇA CARIBÉ que tem como realce, além de sua eficiente filtragem, o armazenamento em tonéis de umburana de cheiro. Assim, além de comerciante, passou a ser também um industrial. A Cachaça Caribé passou a divulgar a cidade de Januária para grande parte do Brasil, principalmente os estados de São Paulo, Bahia, Goiás e toda Minas Gerais. O produto se tornou tão difundido e de qualidade insuspeitável que, após inúmeros testes, teve a sua comercialização aprovada para a Alemanha.
Os negócios cresciam, sendo necessário aprimorar a estrutura administrativa e contábil. Dessa forma, foi criada a empresa -“Comércio e Indústria Caribé S.A” -,uma sociedade anônima que nascia com mais de 100 acionistas; oportunidade de investimento de grande número de pessoas interessadas pela empresa.
A economia de Januária se desenvolvia. O comércio se aprimorava, aquecia e os consumidores se tornavam cada vez mais exigentes. Mais uma vez o sr. Caribé deu um passo a frente, criando no início da década de 70 o primeiro supermercado da cidade “ SUPERMERCADO CARIBÉ”.
Hoje a empresa conta com duas lojas de supermercado, um comércio atacadista e a industrialização da cachaça. Além de tudo, possui dois patrimônios que a destacam de qualquer outra empresa: a liderança e tenacidade deixadas pelo seu idealizador e fundador, sr. Beltrando Caribé ,bem como a dedicação de sua equipe de funcionários.
O Fundador
Beltrando Caribé veio de longe, da cidade de Belém de São Francisco, estado de Pernambuco,
onde nasceu em 23 de fevereiro de 1907. Como experiência, trazia 10 anos de aprendizado no comércio, onde começou aos 12 anos como faxineiro e terminou como gerente.
Como instrução, o curso primário e como documento, a seguinte declaração de Delegado de Polícia de Belém de São Francisco: “É portador da presente, o cidadão Beltrando Pires de Carvalho Caribé, que segue com destino ao sul do país, natural e residente nesta cidade, e que desde a idade de 12 anos que entrou como empregado da firma comercial desta praça, que é de Manoel de Araújo Carvalho Caribé, uma das mais importantes, e em recompensa aos bons serviços, chegou a ocupar o lugar de gerente e sócio da mesma firma, tendo deixado por sua espontânea vontade. O mesmo pertence a uma das melhores famílias desta praça e é de grande conceito. Portanto, lhe dou esta que poderá fazer o uso que lhe convier.”Assinado: Delegado de Polícia de Belém de São Francisco.
Em outubro de 1928 conheceu Januária a caminho de São Paulo, onde iria trabalhar. Começou pela capital, depois no interior indo até Mato Grosso como “mascate”. No dia 06 de janeiro de 1930 voltou a Januária, a cidade de maior poder aquisitivo da região, onde instalou uma loja de armarinho, auxiliado pelo irmão Manoel Caribé.
Em 1936 foi eleito Presidente da Associação Comercial de Januária, fundada pelo dr. Edson Magalhães Minervino Aquino Filho, Ruy Cunha e Antônio Longuinhos de Souza.
A estes, juntaram-se depois Emílio de Mattos, os irmãos Naylor e Matheus Alves e Josefino Saraiva. Ainda neste mesmo ano foi construído o prédio onde funcionava a Entidade e o Clube dos Quarenta.
Construiu e instalou em 1938 um curtume pela dificuldade em conseguir um simples pedaço de couro trabalhado. Essa iniciativa veio atender a toda região, com capacidade de beneficiar 200 meios de sola por dia.
Beltrando Caribé plenamente realizado deixava evidente uma das mais nobres qualidades do homem – a gratidão – que através da boa acolhida e atendimento para com todos aqueles que o procuravam, que proporcionando conforto aos fregueses e comunidade com a criação de poço tubular em área de sua empresa, fornecendo água à população durante muitos anos, numa demonstração de reconhecimento ao januarense que o acolheu tão bem e o ajudou a prosperar.
Em 1947 inaugurou outro tipo de atividade -“Comércio e Indústria Caribé S.A”, na praça Raul Soares, onde se encontra até hoje. Contou com a colaboração de irmãos, cunhado, nora, genro e filhos. O comércio deu grande destaque a venda de cereais, ferragens e a cachaça da região, a famosa Caribé, conhecida até no exterior. Criou o primeiro Supermercado da cidade que, posteriormente deu origem ao segundo.
Sua vitoriosa trajetória na área comercial é consequência do homem forte, humano, persistente, otimista e empreendedor que sempre foi, contando com o suporte e apoio da família que construiu e dos familiares e amigos que o acompanharam e incentivaram, sempre.
Faleceu no dia 16 de junho de 1996.